Biografia

A que soa um bom disco, um grande disco? Soa a verdade. Pode ter o som de milhentos géneros diferentes, de orquestras ou de instrumentos solitários, de vozes angelicais ou pesadas e fúnebres. Mas um bom, um grande disco soa sempre a uma verdade absoluta, à distância mínima entre ouvinte e músicos, entre quem ouve e quem dá a ouvir.

Só que o caminho para chegar a essa verdade é, muitas vezes, acidentado. Não basta ligar os microfones, ligar os amplificadores, montar a bateria e deixar que a música passe como que por magia da sala de ensaios para uma rodela de CD ou para um ficheiro digital esperando que conserve a sua essência intacta.
Os ouvidos de João Bessa estão especialmente sintonizados com essa busca pela verdade.
Depois das habituais passagens por bandas na adolescência, montou um pequeno estúdio para gravar as bandas amigas (1998), 3 anos depois ingressou no curso de Produção Musical na ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo) onde se formou e estagiou com Mário Barreiros até se tornar no braço direito do homem que ajudou a esculpir o som que conhecemos de muitos dos discos fundamentais do pop/rock português dos anos 90. Assim, assistiu da primeira fila ao nascimento de uma fornada de muita da música que criou o tronco comum criativo a muitos dos grupos que hoje descobrimos e ouvimos.

“A que soa um bom disco? Soa a verdade.”

Com o arranque do Boom Studios, de Pedro Abrunhosa (com quem tem mantido uma fértil parceria de produção nos seus últimos 3 discos) , foi João Bessa quem ficou atrás da consola a interpretar e traduzir essa verdade dos músicos que ali chegavam. E foi afinando uma particular apetência e aptidão para descobrir e trabalhar a identidade de cada grupo ou songwriter, da pop mais ou menos alternativa ao jazz, ajudando a dar o polimento perfeito a talentos que apenas necessitavam de quem os soubesse ouvir e interpretar – como fez com Pedro Abrunhosa, Miguel Araújo ou Deolinda. Foi também a ele que recorreu Ana Bacalhau para se descobrir como cantora a solo e dar corpo à sua voz fora dos Deolinda, no recente Nome Próprio.

Se a produção é um dos lados mais visíveis da sua actividade, não é menor a intensidade que dedica às misturas de cada gravação, procurando também nesse trabalho de absoluta minúcia valorizar e potenciar a personalidade própria de cada artista e de cada disco que recebe em mãos.

Talvez porque nunca se desligou totalmente da forma apaixonada como entrou na música e começou a gravar bandas dos amigos, João Bessa gosta de construir relações com os músicos com quem trabalha, de se envolver a ponto de ser quase mais um elemento do grupo, de proporcionar sessões de gravação que não se assemelham a trabalho árduo mas a momentos quase de férias, de um prazer conjunto, fora da rotina, em que o estúdio funciona como um prolongamento de um encontro humano, assente na confiança mútua. Porque só a partir desse encontro é possível descobrir a que soa a verdade de cada pessoa, de cada grupo, de cada disco.